Saturday, March 29, 2014

Efó: comida de Nanã.


Estou cada vez mais apaixonado pela culinária brasileira, sobretudo a baiana, cujas raízes se encontram nas tradições oriundas dos povos africanos que foram escravizados no Brasil. Muito dessas culturas foi massacrado, mas a força, a resistência e a fé desse povo que constituiu grande parte das tradições afro-brasileiras que mantemos vivas hoje foram capazes de salvaguardar tesouros da cultura africana em nosso país. 

De tempos em tempos, dedico um pouco do meu amor por cozinhar a reproduzir pratos da culinária típica baiana. Essa semana foi a vez de homenagear a orixá Nanã, cuja cor é o roxo, sincretizada no catolicismo com Santana, a mãe de Nossa Senhora. Nanã é considerada a “avó" de todos os orixás. É uma mãe primordial, cujo habitat é os lagos, os brejos, o lodo e o elemento é o barro, de ontem todos viemos e para onde todos voltamos. Representa 1a sabedoria do velho, a “refazenda" dos ciclos da vida e suas transformações.  “Saluba, Nanã!” é sua saudação. 

Sua comida é o Efó, um cozido de folhas (taioba ou mostarda) que lembra a própria constituição primordial do barro, do lodo. A  taioba, também conhecida como “orelha-de-elefante” (pelo seu tamanho e semelhança com o formato)  é usada em São Paulo como planta ornamental, mas em Minas Gerais e na Bahia é encontrada em feiras e mercados. Já a mostarda é mais facilmente encontrada das feiras-livres. Ambas tem gosto amargo e deve se tomar cuidado ao pegar taioba sem conhecimento mais apurado, visto que algumas de suas espécies podem ser venenosas. 


É um prato saboroso que pode ser comido sozinho ou acompanhado de arroz e farinha de mandioca torrada. 

Então, se quiser experimentar, anote aí os ingredientes: 

01 maço de taioba (usei 06 folhas grandes) ou mostarda
02 cebolas inteiras
10 dentes de alho
250g de camarão seco
250g de amendoim torrado sem casca
250g de castanha-de-caju
01 pedaço pequeno de gengibre
250ml de leite de coco
Azeite de Dendê
Sal 
01 Pimenta dedo-de-moça sem sementes

Num pilão ou num liquidificador, triture as folhas até formarem uma massa homogênea. No liqüidificador é preciso acrescentar um pouco de água para auxiliar. Separe numa vasilha. Vá triturando as cebolas, o alho, o camarão, o amendoim, a castanha e o gengibre.

Numa panela (que pode ser de barro), esquente um pouco de Dendê, coloque as cebolas e o alho, refogue levemente e depois acrescente todos os outros ingredientes. Vá cozinhando em fogo médio, mexendo sempre para não grudar. À medida que a água vai secando, a verdura vai adquirindo uma cor escura. Vá provando para ver se o amargor da verdura desapareceu e, se precisar, acrescente um pouco mais do amendoim ou da castanha para “adocicar" um pouco mais, mas é normal sentir um amargor leve no final, sem ser incômodo. Sirva com arroz branco e farinha de mandioca torrada. 


Bom apetite e Saluba, Nanã!!! Muito melhor ao som de "Cordeiro de Nanã" com "Os Tincoãs": 

http://letras.mus.br/os-tincoas/1820198/#