Saturday, January 15, 2011

Sangria


Quando era pequeno, sangria para mim era um pouquinho de vinho misturado com água, açúcar e gelo que meu avô fazia quando íamos almoçar na churrascaria Porteira dos Pampas. Não que ela não fosse. Pra mim essa era uma sangria mágica, especial, que vinha preparada pelas mãos do meu querido avô.

É lógico que a sangria “verdadeira” é muito melhor. Também é lógico que eu não inventei a sangria, nem a receita dela. Mr. Google e seus milhões de páginas me deram várias receitas e essa que eu divido com vocês é minha predileta, embora não me lembre suas origens. Mas sangria é domínio público. Quer saber quem inventou? O dono da receita? Faça alguém incorporar o espírito de um cigano legítimo, lá da Andaluzia e pergunte pra ele.

Mas a sangria é uma excelente opção para acompanhar vários tipos de pratos e petiscos e é uma opção deliciosa para quem gosta de vinho, mas não encara um tinto puro no calor.

Então reúna os seguintes ingredientes:

03 garrafas de vinho tinto gelado (Vinho Chapinha, San Tomé e congêneres NÃO PODE! Mas tem que ser um vinho modesto, sem grandes requintes. Recomento o chileno Gato Negro, que tem preço barato e são muito gostosos.

½ a 01 litro de água com gás ou soda limonada (eu prefiro com soda) gelada

01 copo de rum

½ lata de pêssegos em calda picados e 01 copo da calda

01 maçã vermelha grande picada (eu gosto com casca e tudo)

01 punhado de uvas Red Globe picadas

03 ou 04 rodelas de abacaxi picado

02 laranjas cortadas em pequenos triângulos com casca

Outras frutas picadas a seu gosto (kiwi, cerejas, morangos,etc)

Bastante gelo

Açúcar a gosto

Canela em pau

Cravo

Coisa simplérrima: numa grande vasilha, misture todos os ingredientes. Eu gosto de colocar num enorme recipiente de vidro transparente e servir com concha, porque acho charmoso ver as frutas boiando com o gelo. Se acabar a sangria, basta repor um pouco mais de frutas, o vinho, o rum e água ou refrigerante, adoçar, colocar gelo e servir. A sangria também pode ser feita com vinho branco, champagne e pasmem, ouvi dizer que até com sakê. Mas pra mim, a melhor é ainda a boa e velha sangria de vinho tinto. E um brinde!

Arroz de Matambre do Doutor Fofinho



A primeira vez que comi matambre foi numa churrascaria chamada Galpão Crioulo em Porto Alegre. Eles serviam no espeto, em forma de rocambole, recheado com bacon, ervas e legumes. Toda vez que ia ao sul do país me deliciava com isso. Quando comecei a cozinhar, cheguei a procurar em alguns açougues o matambre, mas ninguém conhecia. Só conseguia encontrar nos restaurantes argentinos, que serviam “matambrito”: um matambre desfiado como aperitivo. Só fui conseguir comprá-lo quando descobri que o matambre era a capa da costela e, que esse nome vinham do espanhol “mata hambre”, pois era a primeira parte retirada do boi após o abate. E pasmem, descobri isso numa daquelas receitas da Revista Caras, enquanto estava na cadeira da clínica de podologia.

A primeira vez que fui tentar fazer o matambre foi uma catástrofe. Fizemos um churrasco na casa de uma amiga, montei todo orgulhoso o rocambole recheado com bacon, legumes, couve. Embrulhei em papel alumínio e, depois de hora de brasa, retirei, com água na boca. Tomei pau. O matambre estava um pau. Minha amiga, a primeira a experimentar, disse: “Está gostoso. Só está muito duro. Mas o tempero está muito bom”. Nem precisa dizer que o recolhi do churrasco e ainda levei pra casa o outro pedaço que sobrou sem cozinhar.

No dia seguinte coloquei aquele rocambolinho pra cozinhar na panela de pressão. Deixei a carne cozinhar até ficar desmanchando e do cozimento sobrou um molho com um sabor estupendo. Comi o matambre com arroz branco, jogando aquele molhinho por cima e ficou fantástico.

A partir daí, fui incrementando o matambre, até que virou um prato conhecido e aclamado pelos meus amigos. Já o cozinhei várias vezes em casa ou em casa de amigos. E, em agosto de 2010, a receita foi matéria da Revista Gula. Então deixo aqui a receita do meu Arroz de Matambre:

2 kg de Matambre ou “capa de costela” (em SP quase ninguém sabe o que é matambre). Retirar a capa de gordura que envolve a carne; a carne já é gordurosa o suficiente. Corte em cubos grandes.

200 g de bacon em pequenos cubos

Sal

Pimenta do reino em grãos

Pimenta de bico (umas dez unidades)

Louro

Azeite de Oliva Extra Virgem

Azeitonas em rodela e sem caroços

Uma cabeça de alho (os dentes podem ficar inclusive com casca)

Canela em pau

Cinco dentes de cravo

Um pouco de noz moscada ralada

Cachaça (cerca de um copo americano)

Salsinha e cebolinha

Cominho fresco

Uma cebola grande

Bacon

Tomate picado ou 250 gr. de tomate cereja bem vermelhinho e doce.

E outros temperos que vierem à cabeça...

1 kg de Arroz (pode ser arroz branco misturado com arroz selvagem, só arroz branco ou vários tipos de grãos misturados...)

Primeira etapa: colocar o matambre com todos os temperos numa vasilha grande ou num saco plástico transparente e resistente, inclusive com a cachaça. Cobrir com um pouco de água se estiver na vasilha ou fechar bem o saco plástico e deixar na geladeira de um dia para o outro. Eu gosto de deixar o alho com casca e tudo porque, além ficar mais saboroso, ele geralmente fica pastoso por dentro da casca.

Segunda etapa (pode ser feito várias horas antes de preparar o arroz): Pegar a carne que ficou curtindo no tempero, colocar numa panela de pressão. Cozinhar até que a carne fique bem macia, quase dissolvendo. Se, no final do cozimento, houver pouca água, acrescente um pouco mais de água e ferva por uns 10 minutos. Retire somente os cubos de carne e reserve. Esse molho vai ser usado no preparo do arroz. Sugiro retirar os cravos e canela após esse cozimento, porque geralmente as pessoas não gostam da sensação de mastigar esses condimentos com a comida.

Terceira etapa: com manteiga (que pode ser manteiga de garrafa) ou azeite, doure alho e cebola numa panela grande. Também gosto de misturar à manteiga ou ao azeite uma colher de sopa de dendê. Eu costumo usar a Wok, porque acho bonito visualizar os ingredientes enquanto preparo.

Coloque todo o arroz, refogue e vá adicionando o molho da carne e mexendo com cuidado. Depois de refogado, coloque todo o molho da carne e vá cozinhando o arroz, movimentando levemente o conteúdo para não grudar no fundo. Geralmente o arroz selvagem é o mais duro de todos. Quando ele estiver quase mole, misture a carne ao arroz, mexendo com cuidado para não desmanchar ou empapar. Uma outra possibilidade é cozinhar o arroz selvagem na panela de pressão junto com o matambre, poupando o tempo que leva para ele amolecer. Pode servir na própria panela ou numa vasilha grande, enfeitando com pimenta de bico, galhos de salsinha.

Se você estiver num espírito muito argentino, o matambre combina bem com vinho tinto ou sangria. Se escolher o tinto, sugiro o malbec Altos Las Hormigas, que não é caro e tem um sabor encorpado. Buen apetito!